Logo de cara, quando se aperta o play e abertura da série começa, dá para perceber por que caminho o enredo vai seguir. A mistura de símbolos de diferentes mitologias e religiões é o foco principal dos primeiros minutos de Deuses Americanos. O filtro e a música também combinam perfeitamente com cada segundo da abertura e é perceptível a ideia de "desconstrução de fé" antes mesmo de começar o episódio.
Baseado no romance de Neil Gaiman, que leva o mesmo nome, a série começa diferente do livro na "ordem de cenas" para criar um maior impacto visual que é percebido em todo o restante do episódio. Todo jogo de câmera é fundamental. Tanto os momentos de zoom in e zoom out, quanto as transições de cena. Ao "iniciados" (ou seja, aqueles que já leram o livro), os detalhes podem passar menos despercebidos, mas não é uma regra. Cada elemento é importante e dá a entender que serão melhores explorados com o desenvolver da história.
Ricky Whittle é Shadow Moon e isso é tudo que você precisa saber, caso não queira nenhum spoiler. Aos fãs de The 100, já adianto, as primeiras cenas podem causar certo desconforto, afinal de contas não é todo dia em que se vê Lincoln de terno e camisa social. Ian McShane é Mr. Wednesday (do inglês, Sr. Quarta-feira) e isso também é tudo o que você precisa saber sobre ele, além de que diante de suas primeiras aparições no episódio já é possível perceber o seu sarcasmo e, principalmente, seu poder de persuasão e influência.
A trilha sonora é quase um personagem a parte com uma forte possibilidade de se concretizar nos episódios que estão por vir. Atente-se às letras, pois elas encaixam perfeitamente em planos posteriores e imagens que se seguem. Uma dica? Preste atenção na música do bar e no carro em que Shadow e Mr. Wednesday estão. Todo elemento está conectado. Realmente todo.
Ao desenvolver o enredo na relação de desconstrução da fé, a história foca nas coisas materiais que regem a vida humana: dinheiro, luxo, sexo... A contextualização com o mundo atual e a adaptação para os dias de hoje, em relação ao lançamento do romance (2001) é um ponto a ser observado, já que, sem querer dar palpites, a história é praticamente atemporal.
Àqueles de cabeça fraca, um aviso: o roteiro é mind-blowing e há cenas fortes. Porém, vale o risco e a reflexão. Aos que curtem uma teoria da conspiração e o conceito de universalismo, derrame-se em cada segundo de cada episódio e se necessário assista novamente e novamente e novamente.
Um resumo de tudo isso? Imagine Macunaíma (Mario de Andrade) dirigido por Lars von Trier (Ninfomaníaca). Deuses Americanos é o "retrato perfeito" da nossa sociedade fútil. Ou o contrário. Depende do que você acredita. E se tem algo que você precisa fazer para assistir essa série é "acreditar". Sem fé, sem deuses.
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