Dunkirk | Crítica

Dunkirk
Elenco: Fionn Whitehead, Mark Rylance, Tom Hardy, Jack Lowden, Aneurin Barnard, Damien Bonard
Direção: Cristopher Nolan
Estreia: 27 de julho de 2017.

★★★★

É comum afirmar que a cor azul representa o sentimento de esperança. E que cor poderia ser mais presente neste filme do que o azul? A paleta de cores não muito ambiciosa escolhida por Cristopher Nolan é um presente visual dos mais belos que, somada às maravilhosas filmagens, fazem de Dunkirk um espetáculo memorável. Porém, a falta de apego emocional aos personagens e o completo desaparecimento de qualquer sentimentalismo é onde o filme derrapa: nos erros já conhecidos do diretor.

A história da retirada de Dunquerque em 1940 é um episódio de tragédia militar para o Reino Unido, quando aproximadamente 400 mil homens foram resgatados da cidade francesa. Polêmicas históricas a parte, essa obra retrata um ponto de vista não tão emocionante como visto em outros filmes de guerra como "O Resgate do Soldade Ryan", mas se estabelece como uma obra trágica onde a sobrevivência é o louro almejado soldados ingleses. Curto (1 hora e 47 minutos, tempo perfeito), o longa trata de três núcleos na história que ocupam tempos diferentes na narrativa: "O Mar", liderado pelo capitão Dawson (Mark Rylance) numa viagem em uma pequena embarcação que dura um dia inteiro; "O Molhe", uma semana na praia da cidade sob as ordens do Comandante Bolton (Kenneth Branagh) e "O Ar" que acompanha o piloto Ferrier (Tom Hardy) da Royal Air Force por uma hora. 

A sutileza ao tratar do inimigo é notória (a palavra "nazista" não é usada em nenhum momento do filme), é claro para o espectador quem é o vilão da história e isso é bom. Em nenhum momento a inteligência do espectador é subestimada (vide "Interestelar" e "A Origem"). Não há nenhum destaque individual nas atuações, embora Harry Styles seja uma grata surpresa. Algumas frases soltas no meio do filme estão lá claramente apenas para serem parte do trailer. Uma escolha do roteiro na metade do filme no núcleo "O Mar" é totalmente injustificável, pois não avança a história sequer adiciona algum elemento que seja importante para a narrativa. 

Porém, é no cuidadoso aspecto visual que Dunkirk impressiona e convence. Algumas cenas podem fazer o público pensar: "Como ele filmou isso?" A singularidade de tons de azul na paleta do filme, com alguns breves momentos de rostos e roupas imergem o plano numa grandiosidade acompanhada magistralmente pela trilha sonora de Hans Zimmer, um crescendo durante todo o longa que termina numa lindíssima composição vitoriosa ao passo que as embarcações civis chegam a Dunquerque.

Praticamente impecável na sua construção narrativa, Dunkirk se revela aos poucos uma obra onde o heroísmo encontra a sensação de derrota e fraqueza. É um filme além das atuações e das frases piegas que demonstram como Nolan se perde ao procurar um núcleo emocional para a trama. A ação acontece como uma onda: vem e volta periodicamente e de modo imprevisível. Se trata de uma obra corajosa e muito ambiciosa em seus elementos ao passo que se estabelece como um filme de guerra. Do mesmo modo que é vazio na emoção, o filme enche os olhos e cala quem quer que seja nas espetaculares cenas onde o inimigo é sempre real, físico, e nunca espiritual. 

Existem grandes filmes de guerra com uma história voltada para o lado sentimental e humano, como em "Além da Linha Vermelha". Dunkirk é exatamente o oposto. Aqui você encontrará um filme de uma história nunca contada da Segunda Grande Guerra nas lentes de um cineasta que enxerga a guerra de modo sequenciado e artístico. Você ficará estupefato com a beleza do longa e ao mesmo tempo com a falta de sentimentalismo de todos os personagens. Há algo além das imagens e da trilha sonora, sem dúvidas. A ambição de Nolan, seu olhar, sua cadência na progressão da narrativa. Porém, não procure por algo muito próximo de um ser humano aqui.

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