Feito na América | Crítica

Feito na América (American Made)
Elenco: Tom Cruise, Domhnall Gleeson, Sarah Wright, Caleb Landry Jones, Alejandro Edda, Benito Martinez
Direção: Doug Liman
Estreia: 14 de setembro de 2017

★★★★

Nos anos 80, o piloto americano Barry Seals (Tom Cruise) transportava drogas para dentro dos EUA, direto das mãos de Pablo Escobar, em Medellín. Além disso, ele ainda ajudava o FBI no armamento de movimentos anti comunistas na América Central. Parece mais um filme cliché de fim de verão americano, e é exatamente isso. Porém, há um charme e um carisma a mais. Feito na América é a melhor atuação de Tom Cruise em algum tempo, além de ser divertido e empolgante.

Depois de uma performance vergonhosa em A Múmia, Tom Cruise entrega aqui uma boa atuação de um personagem, no mínimo controverso. Barry Seals é completamente amoral, sem nenhuma noção ou padrão de conduta numa época onde o tráfico de drogas crescia absurdamente nos EUA graças à cocaína do Cartel de Medellín. O filme é sobre ele aceitar novas oportunidades por dinheiro e sofrer as consequências disso, principalmente no âmbito familiar. Então, esqueça o Tom Cruise "coxinha" e subutilizado de ultimamente. Esteja preparado para vê-lo roubar uma bicicleta de uma criança, jogar um monte de dinheiro a ela e fugir com o corpo coberto por cocaína.

O núcleo da família, com a esposa e os filhos, não se torna um refúgio moral para Barry, pelo contrário. Ele está disposto a aceitar cada vez mais trabalhos ilegais buscando fazer bem à sua família. O carisma e a boa atuação de Cruise faz com que o espectador se conecte com o protagonista e torça por ele, embora seja claro que ele está do lado dos vilões: os traficantes e o governo americano. Isso faz com que Barry sinta-se como um rei, porém nada mais é do que um peão no grande jogo de sistemas que se construía ao seu redor. O financiamento do governo americano à guerrilhas anti comunistas na Nicarágua com armas e treinamento militar tem, no filme, papel de denúncia às operações que a CIA mantinha na época. O protagonista consegue, no entanto, não só executar o trabalho sujo para a inteligência americana, como também para os traficantes, quebrando a barreira do anti-herói e sendo mais um vilão. Isso também anula qualquer reflexão sobre uma lição a ser aprendida ao final do filme, pois o personagem não reflete escolhas que normalmente consideraríamos antes de tomar.

A trilha sonora com músicas dos anos 80 acompanha muito bem a edição do filme, que é eficaz e segura. O responsável pela fotografia é o uruguaio César Charlone, que trabalhou em Cidade de Deus e faz um ótimo trabalho aqui. O uso das cores quentes, saturadas e vívidas resgatam o tom oitentista ao passo que ambienta o filme na América Central e na Colômbia. Há uma diferença nas cores predominantes nas cenas nos EUA, prevalecendo tons de azul e mais frios, e nas cenas nos outros países, cheios de cor, trazendo o conceito da cultura forte e da libertinagem homóloga.

O elenco de apoio trabalha bem, destaque para Domhnall Gleeson e seu sotaque americano como o agente "Schafer" da CIA. Há tempo de tela suficiente para explorar os demais personagens, porém obviamente Tom Cruise está em evidência na grande parte do tempo. O roteiro não explora falas elaboradas, mas sustenta bem a história em flashbacks a partir de uma câmera de vídeo, até que as duas linhas narrativas se encontram rumo ao final do longa. Dessa forma o filme prende mais o espectador e não deixa a narrativa cair na mesmice, num processo claramente cuidadoso e bem feito pelo diretor Doug Liman.

Curiosamente divertido, empolgante e bem acabado, Feito na América é sim mais um blockbuster de fim de verão, porém os cuidadosos aspectos desde as cenas de ação até a performance memorável de Tom Cruise fazem desse filme uma pequena exceção entre tantos outros. Não o suficiente para ser lembrado e cultuado, mas o necessário para ser aproveitado sem grandes preocupações. Depois de tanto tempo, podemos dizer novamente que Tom Cruise carregou um filme nas costas e o resultado é bom.

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